Luis Carlos Cardoso alcançou um feito inédito na paracanoagem recentemente no Mundial de Milão, na Itália. O piauiense de Picos se tornou o primeiro paratleta brasileiro a conquistar medalhas de ouro tanto no caiaque quanto na canoa (no caso do segundo barco, sagrou-se bicampeão) nesse torneio. Neste fim de semana, saiu com dois ouros do Campeonato Brasileiro, em Curitiba, no K1 500m L1 e K1 200m L1. Mas, muito antes de se destacar na paracanoagem, teve um “pai da vida” que o incentivou. Trata-se de alguém bastante conhecido, o cantor Frank Aguiar.
Ele dançava profissionalmente nos shows e até mesmo coreografava para ele, mas a vida deu uma reviravolta. Luis começou a sentir dores musculares intensas, o joelho praticamente parou e ele foi internado. Estava paraplégico por conta de uma infecção na medula por parasita, chamada esquistossomose. A canoagem veio como reabilitação na fisioterapia e, por intermédio do cantor, tornou-se a vida do piauiense.
– Ele foi como um pai para mim. Quando soube que eu iria competir em Curitiba no meu primeiro Brasileiro, em 2011, bancou minha viagem. Ele viu que eu estava entusiasmado e me ajudou a comprar meu primeiro barco. Fiquei em terceiro lugar no caiaque e em segundo na canoa. Essa prata me colocou na seleção para disputar o Campeonato Pan-Americano e fui campeão com o barco que ele me deu – disse Luis Carlos, acrescentando que seu barco tinha o nome de Frank Aguiar estampado, afinal, o cantor foi seu primeiro patrocinador.
Antes mesmo de sair da internação no hospital, Frank Aguiar ajudou Luis Carlos. Pagava seu aluguel, colocou à disposição dele um carro com motorista para sair e fazer os exames e fisioterapia em uma clínica.
– Ele me ajudou até ano passado, quando voltou para o Nordeste. Conversamos e agradeci por tudo que fez por mim, mas disse que, a partir desse momento, eu queria me bancar. Ele pegou e me deu o carro que tinha comprado antes para me ajudar – lembrou.
Desde que ficou paraplégico, Luis foi algumas vezes ao show do amigo em São Bernardo do Campo, onde havia dançado por dois anos. Chegou a levar até mesmo seu técnico para assistir e ficou emocionado quando Frank Aguiar anunciou a sua presença em 2012 no palco. Ele, aliás, teve um convite para voltar à equipe do cantor.
– Já tinha começado a canoagem há um ano, e a mulher dele, que coordenava o balé, me chamou para coreografar. Tive que dizer que não por causa do esporte. Queria me dedicar. Tenho muito facilidade para montar coreografia, mas não pude aceitar. Hoje, sempre que escuto dá saudade. Vi o pessoal no show dele dançando músicas que eu coreografei, mas preciso me conformar porque sei que não volta mais.
A campanha vitoriosa de Luis no Mundial de Milão, segundo ele, foi dedicada a Frank Aguiar, “um dos caras que mais acreditou”. Os dois sempre se mantiveram em contato por mensagens, de acordo com o atleta, a porcentagem do cantor em seu sucesso é alta. E não foi nada fácil. Afinal, logo depois de se tornar paraplégico, perdeu sua mãe, Terezinha, que sofreu um ataque do coração.
– Saber que a pessoa que mais amo veio a falecer no momento que mais precisava dela foi complicado. Me tranquei naquele mundo para tentar não viver tudo que estava acontecendo. Como minha imunidade estava baixa, se eu entrasse em depressão, poderia até morrer. Passei dois meses internado ainda e só fui saber mesmo do que ela tinha morrido bem depois, porque queria tentar não sofrer. Eu tento nem ver foto porque ainda nem senti aquela dor.
Luis, agora, “tumultuou” o mundo da paracanoagem. Afinal, ele conquistou um título em uma prova em que Fernando Fernandes era o grande favorito. O ex-participante do reality show “Big Brother Brasil” foi bronze na competição milanesa, tendo sido ultrapassado pelo piauiense na final, mas já ganhou o torneio internacional quatro vezes e se tornou referência.
– Tumultuei a briga pela vaga porque acho que cheguei onde ninguém imaginava. Mas o bonito é mostrar que a canoagem está crescendo. Nunca tínhamos voltado com sete medalhas de um Mundial. É isso que a gente tem de incentivar. Isso é passageiro. Daqui a alguns anos vem outra pessoa para competir. Temos de pensar no futuro dessa modalidade – concluiu.